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Transtorno Obsessivo-Compulsivo: você sabe o que é isso?

O TOC afeta de 1 a 3% da população mundial
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Autoria: Dra Ludmila Oliveira Maiolini, psiquiatra, CRMMG 75076, RQE 54474

Maio de 2024

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é caracterizado pela presença de pensamentos, imagens ou impulsos intrusivos, persistentes e incômodos, chamados de obsessões, e/ou comportamentos repetitivos e ritualizados que têm como finalidade aliviar a ansiedade causada pelas obsessões, chamados de compulsões. Para ser caracterizado como um transtorno, esses sintomas devem causar prejuízos à vida do paciente, como sofrimento com os sintomas e consumo de tempo.

O TOC afeta de 1 a 3% da população mundial. 60 a 80% dos pacientes com TOC tem algum outro quadro psiquiátrico, como tiques, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, transtornos ansiosos e depressão.

O TOC surge a partir de uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Há grande hereditariedade do quadro, e, em indivíduos predispostos, fatores como estresse, intercorrências durante a gestação e infecções durante a infância foram associados a uma maior ocorrência do TOC em fases posteriores da vida.

Muitas pessoas associam o TOC à “mania de limpeza”, e, de fato, é comum que essa doença se apresente com pensamentos intrusivos de estar sujo ou contaminado e comportamentos de limpeza excessiva. No entanto, essa não é a única apresentação. Outras obsessões comuns são necessidade de que as coisas estejam simétricas e equilibradas, pensamentos de desastre, pensamentos de que irão machucar outras pessoas, pensamentos sexuais que a própria pessoa considera impróprios, pensamentos de se estar pecando. Essas obsessões podem dar origem a compulsões como conferência repetida de portas, janelas ou fogão; necessidade de ter pensamentos bons para compensar os pensamentos ruins, contar ou rezar repetidas vezes; alinhamento de objetos.

As obsessões do TOC muitas vezes podem ter caráter extremamente perturbador para o indivíduo, com conteúdo que é frequentemente contrário aos seus princípios morais, e isso pode gerar grande sofrimento. Algumas pessoas se perguntam, por exemplo, se são pessoas ruins por terem pensamentos repetitivos de que estão matando uma pessoa querida. É importante entender que os pensamentos obsessivos podem ter um conteúdo chocante, e que não refletem as reais intenções e caráter da pessoa, nem significam que ela faria o que está pensando.

Outro fato interessante sobre o TOC é que alguns sintomas podem ter apresentações sutis. Por exemplo, algumas compulsões não são motivadas por pensamentos obsessivos, e sim por fenômenos sensoriais, como sensação de incompletude, de que as coisas não estão “certas”, sensação de que as mãos estão sujas. Enquanto isso, algumas compulsões podem se apresentar como comportamentos mentais, como contagens, repetições de palavras e orações. 

Geralmente, indivíduos com TOC demoram para receber o diagnóstico. Os pacientes podem sentir vergonha ou culpa pelos sintomas, e escondê-los até que afetem seu funcionamento no dia a dia. O aumento do tempo para realização de atividades diárias pode ser um sinal inicial de TOC tanto em adultos como em crianças. Outros sinais são maior isolamento, feridas na pele (em casos de compulsão por limpeza) e surgimento de novos comportamentos ritualísticos e repetitivos.

A presença de comportamentos repetitivos pode gerar confusão entre TOC e autismo. Embora as duas condições possam ocorrer com a mesma pessoa e possam apresentar alguns traços semelhantes, tratam-se de quadros diferentes. O TOC é um quadro que se desenvolve ao longo da vida, podendo iniciar na infância, adolescência ou vida adulta, de forma súbita ou com instalação lenta. No TOC, as obsessões e compulsões causam incômodo ao paciente. Já o autismo é um quadro presente desde o início do desenvolvimento, cursa com dificuldades nas interações sociais, interesses restritos e os comportamentos repetitivos apresentados geralmente são fonte de conforto para o paciente.

Muitos casos de TOC podem ter início na infância, e, se não tratados, podem ter um curso crônico. O tratamento precoce, por sua vez, aumenta as chances de um resultado clínico favorável. Pais e cuidadores devem procurar avaliação se os filhos apresentarem de forma recorrente sintomas como preocupações sobre contaminação ou infecção após tocarem objetos, necessidade de organizar e arrumar objetos de formar a interferir com uma vida escolar normal, necessidade dos objetos estarem perfeitos, preocupações e inquietação excessivas com pensamentos agressivos, sexuais ou religiosos e necessidade excessiva de acumular objetos.  

Quando um familiar apresenta o quadro de TOC, é importante que ele seja tratado com entendimento e empatia, mas sem encorajamento dos rituais e compulsões. Tanto uma postura crítica quanto a acomodação familiar podem piorar os sintomas. A acomodação familiar acontece quando familiares participam ou facilitam os rituais. Responder as mesmas perguntas repetidas vezes, ajudar no alinhamento dos objetos e não limitar tempo destinado a limpeza são exemplos de acomodação.

O TOC tem apresentações e graus variáveis de manifestação, e, por isso, o impacto no dia a dia também varia. O nível de entendimento da pessoa a respeito dos próprios sintomas também difere entre os pacientes. Em geral, os portadores do quadro reconhecem a falta de lógica das obsessões e os problemas causados pelas compulsões, mas em casos de dificuldades cognitivas, a pessoa pode não entender, por exemplo, que pensamentos sobre desastres não têm fundamento na realidade. Casos graves podem cursar com dificuldade na realização de atividades do dia a dia, o que, por sua vez, pode ter impacto na vida trabalhista e/ou social.

O tratamento geralmente é composto por orientações para pacientes e familiares, terapia cognitiva comportamental e, em casos mais graves ou na indisponibilidade da terapia, medicações. Os antidepressivos inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS) são as medicações mais utilizadas, mas outros tipos de medicações, como antipsicóticos, são prescritas se a resposta for insuficiente. Em casos refratários, tem sido estudadas intervenções cirúrgicas, como cirurgia ablativa e estimulação cerebral profunda. 

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