“Isso sempre foi assim” ou “sou assim desde criança” ou “pau que nasce torto morre torto”. Com certeza você conhece gente que diz isso. Ou, talvez, seja você a pessoa que usa tais frases.
É muito comum que as pessoas se sintam desconfortáveis com mudanças. É um caminho desconhecido, que talvez exija novas atitudes, um pouco mais de reflexão, estratégias e raciocínio. Parece ser mais cômodo deixar como está. Será?
Marina Colassanti já dizia, em um de seus textos: “Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia”. Como ela, cito aqui algumas mesmices que, apesar de nos incomodar, a gente se acostuma: Os programas de TV ruins, o trabalho que a gente odeia, os governantes que fazem coisas que não condizem com o que pensamos, o almoço em família que sempre acaba em discussão, a interação com pessoas tóxicas que sugam nossa energia…
A gente vive essas situações no piloto automático. Pensa que não há o que fazer, a vida é assim mesmo. E perdemos esse interesse pelo novo, esse encantamento próprio das crianças, que deveria nos acompanhar para sempre.
Quando se fala em mudança, é natural achar que é preciso ir de um extremo ao outro. Isso assusta! Não percebemos que mudanças mínimas podem trazer excelentes resultados. Entre o preto e o branco há diversos tons de cinza.
Para os incômodos que mencionei, pode-se achar soluções suaves. Os programas de TV (ou streaming), podem ser substituídos, aos poucos, por ouvir música, conversar ou ler. Daquele emprego que não nos satisfaz, não é preciso pedir demissão. Pode-se tentar mudar de setor ou procurar uma capacitação que nos possibilite fazer atividade diferente na mesma empresa. Com os políticos, conhecer os novos candidatos pode ajudar a votar melhor. O amigo ou amiga que suga a energia não precisa ser descartado. Podemos apenas passar menos tempo com ele ou ela. Ou tentar misturá-los a amigos que, ao contrário, nos energizem. Para o almoço em família, um convidado externo pode ajudar a quebrar o clima bélico, trazendo assuntos diferentes à conversa.
William Ury, em seu mais recente livro, fala da figura do possibilista, conceito que pressupõe alguém em busca de possibilidades. Embora o assunto lá seja resolução de conflitos, podemos enxergar o possibilista também nas mudanças. Se eu digo: sempre fui assim, não sei como mudar, o possibilista pode me dizer: mas e se…? E me apontará opções para uma transição segura.
Escolher novos caminhos abre nossa mente e descortina oportunidades que nem imaginávamos existir.
Termino transcrevendo o final do texto da Marina:
“A gente se acostuma para poupar a vida. Que, aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto se acostumar, se perde de si mesma.”
E você, é possibilista ou conformista?
Notas:
O texto de Marina Colassanti que citei está no livro dela: Eu sei, mas não devia.
O livro de William Ury citado é Sim, é possível sobreviver e prosperar em uma era de conflitos da editora sextante.
Luciane Madrid Cesar é uma paulistana de coração mineiro. Cronista, contista, poetisa e escritora de livros Infantis, vê desenho nas nuvens e alegrias no cotidiano. Estuda Cultura da Paz, é mediadora do clube de leitura Leia Mulheres e embaixadora Lixo Zero, na busca por cocriar um mundo melhor.