Semana passada aconteceu a eleição dos membros da comunidade que farão parte do Conselho Municipal de Política Cultural. Há uma ideia preconcebida, um senso comum equivocado de que as ações do poder público, seja na cultura ou no que for, devem ser realizadas de cima para baixo, ou seja: o governo (Estado, Município, União) faz do seu jeito e à população só resta reclamar.
Temos uma arma poderosa, o voto, e é bom nos lembrarmos dela – as eleições municipais estão chegando, que possamos escolher bem! Mas nem sempre votar no político de nossa confiança basta. Precisamos de mais gente. Pessoas que conheçam as dores de cada setor, gente que esteja na batalha em cada frente, que nos represente nas questões mais específicas. Não podemos nos esquecer de que pagamos impostos sobre tudo e que o retorno em serviços é nosso direito, assim como é direito nosso também opinar em como esse dinheiro será aplicado.
Para isso foram criados os conselhos, um conjunto de pessoas, nossas representantes, que juntas decidem as diretrizes de cada segmento, observando a lei. E para espelhar as várias facetas de uma população tão diversa como a nossa, é importante que seus membros sejam escolhidos por nós, população. Porém, é ainda bem restrito o número de varginhenses que entendem a importância desse processo, o que se pode observar pela quantidade total de votos semana passada. Numa população de 136.467 habitantes (Censo 2022), só 549 pessoas foram votar. Embora este número de votantes já seja maior do que de outras eleições do setor cultural, ainda é irrisório. Faltou divulgação ou conscientização? Ambos?
Imagino que muita gente pense: não tenho nada a ver com cultura, não preciso votar. Ledo engano! Todos nós estamos envolvidos com a cultura do lugar onde habitamos. Quando ouvimos música no restaurante, levamos nossos filhos ao teatro, visitamos as feiras de artesanato, participamos de festas nas praças ou de grupos de cultura popular, lemos crônicas ou poesias no jornal ou site da cidade, assistimos a apresentações de dança, contação de história, eventos de audiovisual e tantas outras coisa, estamos consumindo cultura. E ter tudo isso na cidade depende da política cultural do município!
Sobre o processo de votação, estamos caminhando. Observei, porém, algumas coisas que acho importante pontuar.
Primeiro: o horário de votação foi muito pequeno. Estamos falando de inclusão, de diversidade, de atender a população, mas só puderam votar as pessoas com horário de trabalho flexível, os aposentados, os desempregados e talvez aqueles que trabalhem no centro e puderam votar rapidamente no horário do almoço. Um horário expandido nas duas pontas – começando mais cedo e terminando mais tarde – poderia dar chance a mais eleitores.
Segundo: votar em apenas um candidato torna o processo pouco democrático. Veja bem: se o candidato que ganhar tiver 40% dos votos, teremos 60% das pessoas que não votaram nele e para quem, talvez, ele não fosse uma opção. Se usarmos a técnica de três votos por eleitor, por exemplo, a chance de que quem vença seja um dos três votados pela maioria das pessoas aumenta muito.
Há ainda a percepção de que a divulgação foi pouca e muito em cima da hora. E seria interessante que ela tivesse um foco educativo, explicando às pessoas o que é o conselho e qual a importância da participação de cada cidadão.
Uma pesquisa com a população, agora, seria interessante, para captar a percepção sobre o processo e o resultado. Hoje em dia é bem fácil fazer esse tipo de consulta popular, de forma online. Ajudaria muito a direcionar as próximas votações.
E viva a democracia!
Luciane Madrid Cesar é uma paulistana de coração mineiro. Cronista, contista, poetisa e escritora de livros Infantis, vê desenho nas nuvens e alegrias no cotidiano. Estuda Cultura da Paz, é mediadora do clube de leitura Leia Mulheres e embaixadora Lixo Zero, na busca por cocriar um mundo melhor.