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O amor nos tempos de quem?

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Será que ainda que falássemos a língua poética de Camões, da Legião Russoniana ou a dos anjos do Livro Sagrado, sem amor seríamos algo?

Amar é bom? Ôh, se é sim! Mas o Amor é mesmo bom, não sente inveja ou se invaidece? E pior, se o amor enraivece é amor? É só o amor que conhece o que é verdade: a paixão nos cega e o amor nos deixa completamente nus, diante de nosso eu mais profundo.

O amor de hoje, dos tempos pandêmicos do corona, da dengue, é o mesmo amor dos tempos do cólera ou dos tempos do Collor ou dos tempos da Operação Condor? Ou dos tempos de guerra agora, de tempos da dor? Como é o amor na Ucrânia, na Palestina?

O amor é plural, são muitos: mó muntueira, nós, no singular. Certifique-se de estar falando do mesmo amor antes de amar alguém, seja explícito! Ainda que seja só sexo, que é escolha. Amor é sorte? É um livro livre, no estilo Borgesiano, de páginas sem fim.

Quem não tem amor próprio sabe amar o próximo? Ou vai de próximo em próxima, vítima? Quem se ama em excesso não ama quem não é espelho? A gente não odeia quem a gente não ama? A gente odeia quem a gente ama?
Perguntas, muitas perguntas; respostas é que são elas…

Ah, Florentino, Florentino… Florentino que amava Fermina, Fermina que amava Urbino? Ah, Raimundo que amava Maria que amava Lili que não amava ninguém… E aí, Drummond, a vida parou ou o amor se foi?

Se o amor é fogo, é ferida, é dor desatinada, se é tão contrário a si mesmo, porque amamos? Se amar é sofrer e não amar é sofrer mais, o que fazer, Juca Mulato, picar a mula? Amar sem ser correspondido é amor?

Já que Lacan diz que todo amor é recíproco, mesmo quando não é correspondido, isso seria pura lacanagem com o amor platônico? Então, de que vale tudo isso, se seu amor não está aqui?

Se o essencial é mesmo invisível aos olhos, de acordo com o Pequeno (e nada maquiavélico) Príncipe Saint-Exupéryano, além de ser um chavão, o que seria o essencial? Seria o amor, que nos torna inteira e eternamente responsáveis pelo coração que cativamos? Mas não estamos presos por vontade? O amor acaba? Quem não ama vive feliz ou apenas sobrevive?

De Octávio Paz, para nós, “para lá da felicidade ou da infelicidade, embora seja as duas coisas, o amor é intensidade; não nos oferece a eternidade mas a vivacidade, esse minuto no qual se entreabrem as portas do tempo e do espaço: aqui é lá, e agora é sempre. No amor tudo é dois e tudo tende a ser um.”

No entanto, ninguém pertence a ninguém, mas no amor o sentimento de posse (constructo capitalista) é inevitável. Nesse mundo efêmero, caótico, saber-se “de” alguém, ou “ter” alguém (posse), mesmo que só no coração (sístole), nos faz seguir com mais leveza (diástole), ainda que na tristeza, na solidão (arritimia). Quem não ama, adoece, morre, ou mata, nem que seja a si mesmo…

Ainda que saibamos que, segundo (de novo) Lacan, “amar é dar o que não se tem a alguém que não o quer”, e como no fundo não somos nada e não temos nada e nem ninguém, é o desejo que nos move?

Assim, conforme Proust, “em certa idade, quer pela astúcia, quer por amor próprio, tudo o que mais desejamos é o que fingimos não desejar”. No entanto, se no entanto for, nas cores de Stendhal : “o amor é uma flor delicada, mas é preciso ter coragem de ir colhê-la à beira de um precipício”.

Sim, ninguém pertence a ninguém, e o pior é que, em tempo, nos lembra Veríssimo, “o amor está mais perto do ódio do que a gente geralmente supõe. São o verso e o reverso da mesma moeda de paixão. O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença…”.

E aí, é fácil dizer, ou melhor, cantar a Bob-dylaniana “you belong to me”, linda na voz da Carla Bruni? Ou a da Carly Simon, ou a do Police…? Respire, calma…

Enfim, amamos a Perfeição, porque não a podemos ter, e porque, seres humanos, somos todos imperfeitos, qualquer Pessoa, até o desassossegado Fernando… Mas amar é viver e há amares que vem para o bem.
De acordo com a jornalista Dalila Coelho, minha filha, “somente através do amor é possível sonhar com um futuro melhor”.

Por fim, perdoem a nossa loucura,
Porque metade de nós é amor,
e a outra metade também, ainda que roubada, plagiada. Sem amor não somos ninguém.

Aerton Sina é professor de Literatura, poeta de gaveta, eterno amante de vários idiomas e vive divagando, no mundo da lua (talvez seja um astronauta e nem saiba disso).

O texto não reflete precisamente a opinião do blog.

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