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MANUSCRITOS

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Tenho repensado a VIDA e nas mesmices dos dias…
Tenho me pendurado constantemente em cordas finas e suspensas em alturas quase imensuráveis…
Tenho me acomodado e desacomodado quase que no mesmo instante…
Tenho tentado sair do meu estado normal, de ser humano certinho…
Confesso que abandonei fórmulas e joguei todos os conselhos acumulados…
Ando vazia, oca, muito larga em espaços a serem renovados, preenchidos por coisas mais leves e mais cheias de polpas e caldos…
Resolvi andar a esmo!
Dei a bússola ao próprio NORTE.
Caminhar pelas veredas daquilo que ainda desconheço para exercitar minhas inexatidões, eis aqui um desafio…
Tenho revisto meus manuscritos de décadas atrás, quando os dias chegavam até mim sem muita experiência.
Apenas chegavam, crus e carregados de lacunas, que nem sempre eram possíveis de serem preenchidas.
Olho para o passado, pois o retrovisor ao meu lado está partido.
Se me atrevo a olhar pelos cortes e rachaduras do pequeno espelho, consigo visionar apenas fragmentos que se distorcem imitando pseudo-fractais.
Com o passar do tempo só nos é permitido olhar para frente, onde a vida se abre doce, em hastes flexíveis como aquelas que sustentam os dentes-de-leão, flores tão frágeis e doces que abundam nos campos e que se deixam voar levemente com as rajadas dos ventos.
Ah! Se a infância brincasse mais com os brinquedos que não se tocam, que não possuem preço. Artifícios imaginários que não se compram… Se a juventude abrisse as janelas dos sonhos com mais vigor e intensidade.
O mundo ainda não fez a sua maior descoberta – que FELICIDADE não custa nada; ela está nas coisas mais pequenas e delicadas e, por ser assim, acaba por passar despercebida.
FELICIDADE está do lado de dentro, espalhada como pólen, nos nossos jardins e que sobem em ramas floridas pelos degraus que avançamos.
Mas muitas vezes as nossas insatisfações nos cegam e, na ânsia de alcançar aquilo que não se toca, aquilo que não se mede, mas apenas se sente, caímos num poço de escuridão e desatino.
Sair desse poço, ainda que sem fundo, requer muita coragem.
É preciso levantar as mãos para as rajadas dos ventos, aquele mesmo vento que espalhas as partículas dos dentes-de-leão e nos lançarmos ao mundo, para sermos sementes de única flor, pelos seres ímpares que somos, pelos sonhos únicos que sonhamos, pelas imparidades que constroem um mosaico infinito e colorido que torna o mundo mais bonito.

Malu Silva é contadora de histórias, escritora, vaga livre pelo mundo, pegando uma estrela aqui, um pedacinho da Lua ali… Brinca com o Sol, faz poemas para o mar… Veste as desventuras de alegria para poder viver bem os seus dias.

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