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Mãe, ponto final.

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Mãe é mãe. Ponto. Não é necessário escrever mais nada. Pronto. No entanto, se for pra redigir sobre as mães, vírgula (olha o dia das mães aí, gente!), um cartapácio a cada passo, de milhares de páginas, seria tanto quanto suficiente? Nos aliáses, um só dia das mães por ano é pouquíssimo! Assim, no cotidiano que as pertence, as amamos e agradecemos nossas vidas vindas delas. Evas e Marias de todos os dias, sua bênção, amém!

Ah, e há as mães literárias: Capitu, com seus olhos de ressaca, de mar bravio. Há as mães secas como a Sinhá Vitória; as apegadas ao vento, como a veríssima Ana das terras sulistas; A latina mãe Úrsula, dos Buendía, que bem vive e reina por uns cem solitários anos. E o que falar da mãe do Gorki? E as pra sempre mães drummondianas, de quentais e quintanas, de coralinas e evaristos, de ruizes e meireles, de todas as florbelas que espancam…

A letra M, de mãe (mas também de inúmeras outras palavras), é macia, é musical, agrada aos ouvidos, corações e mentes. Certamente, os emes fazem parte dos primeiros sons que balbuciamos, assim como o som primordial para os indianos é o Om, tantas vezes repetido em mantras, prolongando-se o som do M: Ommmmmmmm! Sendo assim, mães, mamães, mamas, mamás, mas e mais e mais…

Lembremo-nos, outrossim, das aliterações dos poemas simbolistas: mães ismálias de vozes veladas e veludosas; mamães que morrem, mas não deviam! Mas mães também matam? Ou até a si mesmas, ainda que aos poucos? Pobres mães, as mãos que as afagam são as mesmas que as apedrejam…

Detalhe não tão pequeno: talvez, por toda essa nossa humana valorização simbólica da letra M, mãe em tantos idiomas também começa com a letra M (e é cantada em todo canto mundo afora): assim, Madre, do latim, do italiano, do espanhol e dos Orishas; Mother e Mom, do inglês, do John Lennon e do Pink Floyd; Mutter, do alemão, do Rammstein; Mamma (Maria), do italiano e do brega-pop Grafite; Mama, do russo e do Phil Collins; Mère, do francês; Māmā (妈妈), do mandarim e talvez de outras línguas sem fim. Fora a mamãe cantada em língua-pátria pelos nossos Tonicos, Tinocos, Toquinhos, Timóteos e Ângelas Marias.

Mãe é mais, mas muito mais que só a musicalidade, a simbologia da letra M, do amor que gera a vida; mas que também carrega o M da morte, que nos leva embora. Sorte nossa, ai, Pachamama, a Mãe-Primeira, em primazia, claro, é a Vida, imortal em si mesma! Entrementes, estamos no colo da Mãe Natureza, que toma conta da nossa cabeça…

No francês, a pronúncia de mère (mãe) é a mesma de (mer) mar e ambas são palavras femininas. Lindo isso! Portanto, semioticamente, para os francófonos, mãe é mar: gera a vida, é profunda, imensa, linda e, às vezes, bravia, como sói ser! Ah, mãe, há mar!

A letra M, de mãe, em sua forma, remete-nos imageticamente a uma montanha, entretanto, mais do que apenas esse registro escrito, pictórico, as mães também são (ou vivem em) uma montanha russa! Cheia de altos e baixos, de um extremo a outro: muitas alegrias, felicidades, sussurros, gritos e sustos e muito estresse, muito sofrimento! Tudo ao mesmo tempo agora. Normal: ser mãe (observa-se) é uma doce, alegre e suprema sofrida loucura! Mães, dialéticas e paradoxais bipolaridades vívidas e vividas.

Nós, filhos e filhas, somos alguns dos causadores de tantas flores e dores para nossas amadas (ou nem tanto assim) mães. De que nos vale ser filhos da santa, se alguns de nós, para nossas mães, somos muito mais uns filhos da outra?

Dizem que mãe é amor, mas nem sempre é ou pode ser ou demonstra. E pro feto? Mas é, quer a gente queira ou não. Fato. Mãe é amiga, mas nem sempre deve ou pode ser ou é. Foto. Mas é, sem ser, queiramos ou não. Afeto. Assim, nos poréns dos confins dos enfins, afinal, somos todos uns filhos da mãe! E viva as mães! E fim de papo: mãe é mãe e ponto final.

Aerton Sina é professor de Literatura, poeta de gaveta, eterno amante de vários idiomas e vive divagando, no mundo da lua (talvez seja um astronauta e nem saiba disso).

O texto não reflete precisamente a opinião do blog.

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Um comentário

  1. Mãe é substantivo enquanto pai é uma metáfora. Mãe é a representação do ouroboros: de sua entranha viemos e voltaremos para as entranhas da Mãe-Terra. Da Água à Terra. Precisamos meditar mais sobre isso! Belo Texto!

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