Segundo o IBGE o Brasil tem mais de 10 milhões de pessoas surdas, pessoas que travam uma luta diária para serem aceitas na sociedade e que sofrem preconceitos por não serem entendidas. E pensando nisso, o Cidade Varginha ouviu o intérprete de libras do grupo Unis, Gustavo Oliveira, que fala sobre a vida de um intérprete e como foi sua formação.
Como você começou a trabalhar como intérprete de Libras na rede estadual de educação? Quais foram os maiores desafios que enfrentou nesse ambiente?
Eu me interessei por libras quando frequentava uma igreja evangélica. Em cursos de aperfeiçoamento, resolvi me profissionalizar. Como eu já fazia licenciatura em Filosofia, me preparei para o exame de proficiência em tradução e interpretação do CAS- Varginha. Como sou trespontano, tanto qualificação quanto o exame, a maior dificuldade era a logística mas, venci!
Qual é a diferença entre interpretar para os anos iniciais e o ensino médio? Existem abordagens específicas que você utiliza para cada faixa etária?
São contextos distintos. Nos anos iniciais, além dos conteúdos a serem interpretados, o aluno está em aquisição linguística. Nesta fase, utilizamos muito das expressões faciais, ferramenta que se bem utilizada, deixa o, ambiente mais ou menos lúdico. Já no médio, lidar com aluno adolescentes, dúvida e assuntos diferentes por si só já fazem a tradução ser “diferente”.
Além da educação, em que outros tipos de eventos você já atuou como intérprete de Libras? Quais foram os mais memoráveis e por quê?
Religioso, educacional dos anos iniciais ao ensino superior, político, congressos, cursos, shows, consultas médicas e terapêuticas e eventos diversos.
Como é sua preparação para eventos como shows, palestras e congressos? Existe alguma diferença na forma como você se prepara para cada tipo de evento?
De início, todo conteúdo que eu interpreto, é necessário ter acesso ao material/conteúdo com antecedência para me preparar, pesquisar sinais, escolher a melhor estratégia.
No caso de shows, o segredo é além de ouvir e ouvir as músicas, é treinar, escrever, pesquisar.
Como é o processo de interpretação em eventos políticos? Existem desafios específicos nesse contexto?
Geralmente temos acesso à pauta do dia mas sempre acontecem discussões “surpresas”. O segredo é sempre assistir/ ouvir plenárias, debates para se acostumar com o contexto.
Além de interpretar, você também trabalha como intérprete de Libras em uma faculdade. Como é essa experiência em comparação com o trabalho na rede estadual de educação?
No ensino médio, o aluno ainda não sabe seus próximos passos, já na faculdade, com exceção de eventos, o conteúdo embora amplo, é objetivo, porém profundo, pois trata-se da formação de um profissional.
Qual é a importância do intérprete de Libras na Câmara de Vereadores durante o Dia Nacional da Educação dos Surdos? Como você se prepara para esse evento em particular?
Uma conquista tão grande, numa data tão importante na casa do povo, não pode ser sem os protagonistas.
Quais são os recursos ou ferramentas que você utiliza para melhorar sua prática como intérprete de Libras?
Grupos de formação continuada, seminários, etc.
Você já enfrentou alguma situação desafiadora durante sua carreira como intérprete de Libras? Como lidou com isso?
Várias.
Uma que me marcou foi quando fui intérprete de uma aluna que além de surda, possui deficiências múltiplas. Aprendi muito, foi uma das melhores experiências que já tive.
Na sua opinião, qual é o papel do intérprete de Libras na promoção da inclusão e acessibilidade?
Mediar duas línguas. Para isso, é necessário domínio de ambas.
Como você lida com o estresse ou a pressão durante a interpretação, especialmente em eventos importantes?
No início a gente é meio esponja. Com o tempo ganhamos maturidade e sabemos inclusive negar determinados trabalhos que “julgamos pesado” para o momento.
Quais conselhos você daria para alguém que deseja seguir uma carreira como intérprete de Libras, especialmente em contextos educacionais e políticos?
Foco na formação, porém: muito contato com a comunidade surda. Ousem sair das salas de aula que há muito campo a ser explorado e humildade sempre.
Gustavo Oliveira- intérprete de libras no Grupo Unis há 4 anos. Atua também na Câmara Municipal de Varginha.
Já trabalhou na rede estadual de educação como intérprete atendendo desde os anos iniciais ao ensino médio, trabalhou também no Senac Varginha em diversos cursos.
Atua em eventos como shows, palestras, congressos, política e outros segmentos.
No total já são 10 anos realizando este nobre trabalho.