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“Deixa eu falar, filha da… expressão!”

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Alguém cunhou o termo Idade Mídia, creio, lá no início dos anos 2000. Não achei o criador da expressão, mas sei que esta era usada pra se referir à Educação e Mídia. Contudo, o termo Idade Mídia casa-se como luva aos dias de hoje, principalmente pra parcela significativa da sociedade, como nós, que vivemos conectados à internet, nos computadores ou em nossos smartphones (“celular” é coisa do passado), quase que 24h por dia, consumindo e/ou produzindo, veiculando informações e futilidades.

Nessa nossa nova era tudo é midiatizado: almoços, passeios, trabalhos, missas, shows, etc, tudo vira fato, fotos e/ou vídeos pra internet. Tem gente que não vive se se desligar das redes sociais, assim como outros vivem a vida dos que vivem postando nas redes sociais, como se vida fosse e se restringisse a isso. E ai de quem esteja fora deste, às vezes, circo de horrores e vicioso círculo midiático! E como seria o retrato de Dorian Gray hoje?

A liberdade de se estar nas redes sociais, porém, a falar, a se mostrar, a discutir, a questionar ou a apreciar a (suposta) realidade é bastante democrática. O número de jovens (e adultos também) que buscam o seu lugar ao sol pra se tornar um “influenciador digital” cresce exponencialmente. Centenas de milhares ou milhões de seguidores geram uma renda de dezenas de milhares de reais! Ai, quinze minutos de glória, onde estais, que não respondes? Em que Terra (plana ou redonda) tu t’escondes?

No entanto, viver na Idade Mídia tem seu preço, que é alto e estressante! Abro um parênteses (a Idade Mídia se aproxima bem também da Idade Média). Cuma? Hoje, como na, preconceituosamente falando, “Idade das Trevas”, há quem ainda acredite que a Terra é plana, que a Ciência é maligna, que as vacinas matam, que não é preciso escolas e nem professores, que a Educação não tem valor, que é apenas uma mercadoria. Quanto custa um diploma barato? A ignorância é uma bênção? Parece-nos um contra-senso, mas é a realidade da Idade Mídia em pleno século 21. E o pior é que a verdade passou a ser encoberta com os termos “pós-verdade” e “fake news”, que são meros paliativos pra encobrir o verdadeiro nome da mentira.

As notícias falsas, porém, estão presentes na sociedade desde antes das priscas eras dos 10 mandamentos (“não levantarás falso testemunho”, lembram-se?), causando, às vezes, profundo impacto no processo de formação de opiniões.

A produção em escala industrial de lucrativas fake news encontrou um terreno fértil nas redes sociais, pois a maioria das pessoas não checa os fatos (aliás, nem questiona se fatos são!), pois acredita no emissor da informação, geralmente por conta de sua proximidade e/ou confiabilidade. Assim, as fake news atacam diretamente as bases fundamentais da Informação e da Cidadania, mas há quem as defenda, inclusive no Congresso (mantiveram – viram isso? – o veto a elas nas eleições deste ano! E o que será que será?), como se falar mentiras e atacar reputações seja mera “liberdade de expressão”, de ter o “direito de expressar sua opinião” e não crime. A Liberdade de Expressão abriu suas asas sobre nós ou suas garras? Quem detém a nossa Liberdade de Expressão, hein, Gramsci? Goebbels sorri no túmulo no fim do túnel…

Por que tudo isso acima? Deixa eu falar: é que em 7 de junho comemoramos, no Brasil, o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa, que objetiva celebrar a importância da liberdade de expressão para a nossa sociedade, para o exercício da cidadania e da democracia, além de ser um momento para denunciar os problemas que os jornalistas enfrentam no nosso país.

A data supracitada é celebrada no 7 de junho porque foi nesse mesmo dia, em 1977, que um manifesto assinado por quase três mil jornalistas, que exigia o fim da censura e defendia a liberdade de imprensa, foi divulgado em plena Ditadura Militar e ainda com a vigência do Ato Institucional n⁰ 5 (AI-5), durante o gov. do ditador Gen. Ernesto Geisel. Quem hoje clama por “liberdade de expressão” não sabe o que isso significava nos anos de chumbo da Ditadura Militar, que assassinou, entre muitos outros, o jornalista Wladimir Herzog.

Anualmente, a Ong Repórteres Sem Fronteira organiza um ranking com 180 países, em que os classifica entre os mais seguros e os mais inseguros para os jornalistas. Em 2023, o Brasil ocupou o 92º lugar, e isso foi considerado uma expressiva melhora, já que, em 2022, estávamos em 110º lugar! Cala-te, boca!

É importante esta data nos lembrar que a Mídia tem o direito e o dever de nos manter informados. Assim como ser livre não quer dizer desrespeitar a liberdade dos outros. Por isso o direito de liberdade abrange também uma obrigação com a ética. É fundamental evitar que fatos sejam divulgados sem a devida apuração da verdade, pois a repercussão de uma fake news pode ser catastrófica. A força destrutiva de uma mentira pode ser bem maior do que de um direito de resposta. E assim, há reportagens e reporcagens!

Pra não dizer que não falei de flores, enfim, alguém sabe me dizer se já foi reinstituída a obrigatoriedade do diploma de nível superior específico em Jornalismo para o exercício da profissão no Brasil? Pois é, seu Zé, sei não!

Aerton Sina é professor de Literatura, poeta de gaveta, eterno amante de vários idiomas e vive divagando, no mundo da lua (talvez seja um astronauta e nem saiba disso).

O texto não reflete precisamente a opinião do blog.

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