Conversando com uma amiga sobre sua separação, ela me disse: “Preciso ficar um tempo sozinha. Nunca vivi sozinha. Preciso saber como é”. E eu me lembrei de mim mesma, quando estive na mesma situação, tendo o mesmo pensamento. Não sei como será com ela, mas eu demorei bastante para chegar a esse objetivo. Acabei emendando um relacionamento no outro, ainda que insatisfatórios, por medo de ficar só. E por quê?
Desde crianças, ainda no maternal, nos perguntam se temos namoradinho(a). Na minha adolescência um amigo da família, sempre que nos encontrava, perguntava a meu pai se ele já tinha comprado a espingarda – para espantar meus pretendentes… À medida em que vamos nos tornando adultos, a cobrança se intensifica e a ideia de que viver sozinho não é normal vai se alojando num cantinho do nosso subconsciente.
Assim, quando vemos alguém sozinho, sem nenhum tipo de relacionamento depois de certa idade, logo achamos que deve ser uma pessoa “difícil”. Sozinho por opção? Imagina… E logo tecemos mil motivos hipotéticos para o indivíduo ter sido jogado para escanteio.
Todos já ouvimos frases como essas:
– A mulher precisa de um homem para protegê-la.
– O homem precisa de uma mulher para cuidar dele.
Além de perpetuarem uma cultura patriarcal, nos induzem ao pensamento eternizado por Erasmo Carlos – antes mal acompanhado do que só – o que, evidentemente, causa muitos problemas.
A sociedade moderna já aceitou que algumas pessoas morem sozinhas e inseriu várias facilidades no cotidiano dos solteiros. Mas divertir-se sozinho parece ainda ser um absurdo praticado por poucos loucos, na maioria das cidades. Por exemplo, se você resolver ir em companhia de si mesmo, comer um tira-gosto num barzinho à noite, provavelmente vai ter que comer muito ou mandar embrulhar para viagem. Não há porções individuais de batata palito ou frango a passarinho. Viagens também são problema. Nos hotéis, diárias individuais custam praticamente o mesmo que as de apartamento duplo. Sair de casa sozinho requer uma melhor condição financeira.
Estar sozinho pode ser difícil ou bastante prazeroso. Gostar da própria companhia não é uma coisa que nos ensinam, mas é extremamente benéfico para nosso equilíbrio. É a diferença entre solidão e solitude, que na gramática são sinônimas (a palavra solitude deriva do latim “solitudo,inis”, com o mesmo sentido de solidão), mas têm sido usadas de maneira antagônica. A primeira, presumindo dor, tem um gostinho de abandono. A segunda, capacidade e desejo de estar só de maneira positiva, nos traz autoconhecimento, alimenta nossa criatividade e recarrega nossa energia para vida em sociedade.
E não há dia melhor para refletir sobre mais este preconceito. Dia dos Namorados, dia dos sozinhos ficarem em casa. Ou se arriscarem a ser alvo dos olhares pesarosos de casais em comemoração.
Luciane Madrid Cesar é uma paulistana de coração mineiro. Cronista, contista, poetisa e escritora de livros Infantis, vê desenho nas nuvens e alegrias no cotidiano. Estuda Cultura da Paz, é mediadora do clube de leitura Leia Mulheres e embaixadora Lixo Zero, na busca por cocriar um mundo melhor.
Amei a crônica Lu!
Estar só não significa solidão. A maioria das vezes é opção, solitude.
Abraços
Tê
Cronista Luciane Madrid, excelente!
Com esta leitura, desfrutei de momentos prazerosos, acompanhada de sua crônica.
Cris Souza.
Sua bela crônica, solou -musicalmente- um viés positivo para o tema. Amei, Luciane Madrid.
Abraço. BetaGui/Betânia Figueiredo
Luciane Madrid, agradecida por retratar tão bem em sua crônica as maravilhas de poder desfrutar da própria companhia.