No dia 31 de março uma turista sofreu estupro coletivo em uma boate na Lapa, no Rio de Janeiro. Segundo a reportagem que li no G1, o estabelecimento possui um cômodo, chamado Dark room, que os frequentadores podem usar para se relacionarem sexualmente. A turista foi levada para lá por um rapaz que conheceu naquela noite, achando que estaria indo para outra pista de dança. Outros homens entraram e o estupro se consumou, fazendo com que ela, inclusive, perdesse a consciência em alguns momentos. A moça denunciou o fato imediatamente após ocorrido e o caso está em investigação.
Ao ouvir uma notícia dessas, talvez, nosso pensamento seja: ela não devia ter confiado em alguém que acabou de conhecer – o que não está errado. Em qualquer situação no mundo em que vivemos, precisamos sempre estar atentos e ser cautelosos. Mas esse tipo de pensamento abre caminho para o que se chama de culpabilizar a vítima. Normalmente nos fixamos nas atitudes da vítima que a levaram a ser agredida, minimizando a responsabilização dos verdadeiros culpados no fato – os homens que cometeram a agressão. Além, claro, da responsabilidade da boate, que não oferece segurança e dos órgãos públicos, que não a fiscalizaram devidamente.
Então, em nossa cabeça, possivelmente, façamos perguntas do tipo:
– Que tipo de roupa será que ela estava usando? ou
– Será que ela bebeu demais e não se lembra de ter consentido sexo com o primeiro cara? ou
– Será que não é um golpe para tirar dinheiro dos moços?
E essas questões independem do quão repugnante consideremos a agressão. São aquelas dúvidas que ficam em segundo plano em nossa mente, como a nos impedir de acreditarmos que a vítima é totalmente vítima. Neste caso específico, o fato de não ser brasileira talvez crie em nós maior empatia por ela e uma preocupação, justa, com a imagem do Brasil lá fora. Se fosse uma moradora da cidade, ainda, talvez, surgisse a pergunta: – Será que ela não conhecia a fama do lugar?
Há aqui duas ideias culturalmente enraizadas em nós: A ideia de que mulher “direita” não vai a certos lugares; e a ideia de que homem é assim mesmo, é da natureza deles. Para eles, a eterna desculpa da biologia. Para nós, a tentativa de nos equilibrarmos na corda bamba entre nossa liberdade e nossa segurança.
E você, soube desse crime? Qual foi, sinceramente, seu primeiro pensamento a respeito?
Luciane Madrid Cesar é uma paulistana de coração mineiro. Cronista, contista, poeta e escritora de livros Infantis, tem livros publicados em formato físico, digital e artesanal.
É membro da APESUL – Associação dos Poetas e Escritores do Sul de Minas, acadêmica da AFESMIL – Academia Feminina Sul Mineira de Letras e acadêmica da AVLAC – Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências.
Estuda Cultura da Paz em suas diversas formas, é mediadora do clube de leitura Leia Mulheres, embaixadora do Instituto Lixo Zero Brasil, atuando como voluntária em diversas causas socioambientais. Mora em Varginha desde 2000.
Contato: @lumadridcescritora (Instagram e Facebook)
lumadrid@gmail.com (e-mail)
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