O presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel),
Paulo Solmucci, assinou junto a outras instituições representantes dos setores de
comércio e serviços, um manifesto pedindo a regulamentação das propagandas e do
acesso aos jogos de apostas online, conhecidos como “bets”.
A Abrasel entende que o crescimento exponencial e desenfreado das “bets” tem atraído
recursos de diversos segmentos e faixa etárias, mas de forma ainda mais impactante,
as classes C e D e de um público mais jovem. Além disso, por conta componente
viciante, as apostas têm impactado diretamente no direcionamento dos recursos
financeiros das famílias.
O documento aponta ainda, ações que podem ser implementadas imediatamente para
conter o crescimento desenfreado das “bets”, como por exemplo, o bloqueio de cartões
de crédito para apostas e uma tributação maior na operação. No Brasil, a oferta de
crédito é muito acima da capacidade de pagamento dos consumidores, o que cria
situações de endividamento. O manifesto indica que o uso do cartão de crédito para
apostas, pode agravar o ciclo nocivo.
Solmucci sinaliza que o alto número de apostas tem afetado não apenas a economia,
mas também as relações sociais. “Estes serviços de apostas e jogos estão desviando
cada vez mais receitas do consumo na economia, principalmente em comércio e
serviços que poderiam estar com resultados melhores graças ao aumento da renda
média no país. Além disso, há uma questão operacional. As pessoas ficam endividadas,
faltam ao serviço e desenvolvem problemas psicológicos que afetam as relações. Em
muitos casos, isso pode afetar diretamente a qualidade do serviço. É necessário que
haja uma regulamentação, tanto das propagandas quanto do acesso às plataformas”,
explicou.
De acordo com o presidente da Abrasel no Sul de Minas, da Associação Comercial,
Industrial, Agropecuária e Serviços de Varginha (ACIV) e do Sindicato Empresarial de
Hospedagem e Alimentação de Varginha (SEHAV), André Yuki, os jogos de azar online
têm crescido a cada dia, trazendo preocupações econômicas e sociais. “O crescimento
de apostadores em jogos de azar atinge mais de 24 milhões de pessoas, redirecionando
a renda das classes mais baixas e dos jovens e afetando o consumo pessoal, inclusive
de alimentos”, afirmou.
Ainda segundo Yuki, segundo o Banco Central, somente em agosto, as classes mais
baixas utilizaram um montante de R$ 3 bilhões para as “bets”, recebidos através de
recursos públicos dos programas sociais como Bolsa Família/Auxílio Brasil. “Esse fato
é inadmissível, pois recursos oriundos de impostos de trabalhadores, destinados ao
sustento de famílias menos favorecidas, estão sendo utilizados em apostas. Outro fato
importante a ser relevado é o endividamento através dos jogos, afetando o orçamento
familiar e prejudicando o consumo de itens essenciais como alimentos, educação e
saúde. Só no mês passado foram R$ 20,8 bilhões em apostas, que deixaram de circular
no comércio”, ressaltou.
Entidades como Abrasel e ACIV, representadas através da Confederação das
Associações Comerciais do Brasil (CACB), propõem ações como regulamentar a
publicidade, restringir o uso de cartões de crédito para apostas, responsabilizar as
empresas de apostas e revisar a tributação para tornar as operações de apostas online
mais onerosas.
Fonte: Ana Luísa Alves / Abrasel no Sul de Minas.
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