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Quem precisa de preconceito racial?

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Aconteceu, na semana passada, mais exatamente no dia 10/07, o VI Seminário do Patrimônio Cultural de Varginha, que abordou o tema “Afromineiridades: os patrimônios culturais de matriz africana em Varginha. Dos relatos, algo me chamou a atenção: o preconceito contra a cultura e religiosidade de matriz africana que ainda é tão forte em nossa Varginha e certamente no restante do país. Alguém aqui conhece a Saudação a Xangô, de Leci Brandão?

Segundo o Censo 2022, a população negra brasileira (composta pela soma de pessoas pretas e pardas) representa cerca de 56% da nossa população. Apesar disso, o racismo, o preconceito ainda afloram na sociedade e também, muitas vezes, se escancaram quando policiais abordam pessoas pretas e pobres.

“Dizem que ela existe pra proteger, eu sei que ela pode te parar, eu sei que ela pode te prender”… Quem não conhece este hino dos Titãs? Mudou alguma coisa em relação à truculência policial, ao abuso de autoridade, ao longo das décadas que nos separam dos anos 80 quando esta música foi criada? Mudou nada ou quase nada!

No final de semana, na madrugada de sábado (13/07) pra domingo, a conhecida figura pública, William do Skate que, segundo ele próprio, havia tomado umas e outras e avançado um sinal, sem provocar acidente algum ou colocar alguém em risco, foi abordado de forma truculenta pela polícia, levado preso e ainda teve seus dreads cortados.

Na cultura rastafári, os dreads têm um significado espiritual e são vistos como um símbolo de força, identidade cultural e conexão com a natureza e com Jah (Deus). E até as pedras de Varginha conhecem William do Skate com seu jeito alegre e tranquilo, na paz e com um sorriso no rosto, com os seus dreads, cultivados por mais de 20 anos! É interessante saber que essa atitude racista de cortar os cabelos era utilizada contra os escravizados.

Ao cortar os cabelos de William, os policiais não sabiam que estavam prejudicando a identidade visual do mesmo, que é pré-candidato ao cargo de vereador ou o fizeram pra prejudicá-lo mesmo? E aí cabe-nos lembrar do “Negro Drama” dos Racionais: “recebe o mérito a farda que pratica o mal”?

Qual o direito que os policiais tinham de fazer essa covardia? Essa é uma atitude “padrão” na abordagem policial ou abuso de poder? Todo cidadão que tiver bebido umas e outras e avançado um sinal de trânsito será preso e terá os cabelos cortados? Ou esta atitude representa um ato preconceituoso, racista mesmo, tanto contra a figura que William do Skate representa, quanto contra o penteado no estilo rastafári que o mesmo usava? Seja qual for a resposta, o tiro saiu pela culatra! William tem recebido apoio e solidariedade de todo o país, de skatistas profissionais, como Jorge Negretti e de outras personalidades importantes no estado, como a ex-Deputada Federal Jô Moraes.

Fosse o William do Skate rico, branco, de loiros cabelos longos, tipo um filho do Eike Batista, e estivesse num potente carrão, seria tratado da mesma forma? Seria preso e teria seus cabelos cortados? É função da polícia agir como uma Dalila contra Sansão?

Infelizmente, não só dentro da instituição polícia militar, mas em toda a nossa sociedade, ainda que se tente mascarar a realidade, o racismo, o preconceito contra a população pobre e preta ainda persiste e faz suas vítimas. E assim questiona o poeta: “a polícia sempre tem razão, porque traz uma arma na mão?”… Enfim, polícia para quem precisa. Quem precisa de preconceito racial?

Aerton Sina é professor de Literatura, poeta de gaveta, eterno amante de vários idiomas e vive divagando, no mundo da lua (talvez seja um astronauta e nem saiba disso).

O texto não reflete precisamente a opinião do blog.

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Um comentário

  1. Abuso de poder, preconceito mascarado de manutenção da lei e da ordem. Triste. Revoltante. Excelente texto, Aerton!

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