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Que loucura, meu?

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Ouvi cantar a Tianastácia, nos quatro cantos das Gerais, que loucura vem de berço. Nos entantos, muito mais louco (bem batido isso) sempre é quem nos diz que é Mutante e não é feliz… E assim, no panis et circenses da vida, as pessoas da sala de jantar, em vão, ocupadas demais em nascer e morrer. E em um quarto os jovens se vão…

Lá pros idos dos tempos findos medievais, vagávamos na barca dos loucos, a nau dos insensatos, sem jamais poder ancorar, em busca da terceira margem foucault-roseana dos rios. Bosch!

Já José J. Veiga nos joga na cara, sem jactância, mas com justiça, bem na Hora dos Ruminantes, que toda cidade tem que ter um louco na rua pra chamar o povo à razão. E não é não? É divagar, é divagar, devagarinho é que a gente chega lá…

Em verso e vida, Raul Maluco Beleza Seixas, controlava a sua maluquez (ou não), mixando-a com sua luxcidez (oh, sim!) e afinava que a arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal. Porém, de perto, bem de perto, de pertinho mesmo, ninguém é normal, nem o Caetano! E assim vamos revelarmo-nus, patofuzeando: mais que anormais devemos ser? A normalidade é uma imposição absurda?

Por assim, se assim for, pro absurdo dramaturgo Beckett: “todos nós nascemos loucos. Alguns permanecem”. E não adianta esperar por Godot, pela cantora careca (Sinéad O’Connor?) ou pelo insólito Ionesco, pois “não é porque não compreendemos uma coisa que ela é absurda”.

De que adiantou, de Machado nas mãos, o Dr. Alienista Simão Bacamarte sair atirando pra todo lado, vendo loucura em todos e em tudo e prender quase a população inteira da cidade de Itaguaí no manicômio Casa Verde? Ahã, quando acabou o maluco era ele, soltou todos e se trancou!

O sábio Fernando Sabino sabia que o Grande Viramundo Mentecapto viria a ser essa maravilha? “Este ser engasgado, contido, subjugado pela ordem iníqua dos racionais é o verdadeiro fulcro da minha verdadeira natureza, o cerne da minha condição de homem, herói e pobre-diabo, pária, negro, judeu, índio, cigano, santo, poeta, mendigo e débil mental, Viramundo! Que um dia há de rebelar-se dentro de mim, enfim liberto, poderoso na sua fragilidade, terrível na pureza de sua loucura.”

Deveria haver em todo lugar Florestas de Nísias plantando a força do afeto. Nossa sorte é que a semente por ela plantada deu muitos frutos, ainda que brutos.

No peito da camiseta se lê: “nossa loucura é muito mais lúcida que o seu preconceito”.

Dia 23 de maio foi o dia Mundial da Saúde Mental e da luta antimanicomial. Passou? Passeaux! Os “normais” passarão; nós, nos quintanas do ar, passarinhos!

Aerton Sina é professor de Literatura, poeta de gaveta, eterno amante de vários idiomas e vive divagando, no mundo da lua (talvez seja um astronauta e nem saiba disso).

O texto não reflete precisamente a opinião do blog.

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