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De todos os lobos, o lobo

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De todos os lobos, o lobo humano é o mais perigoso. O homem continua sendo o lobo do homem, desde muito antes da publicação do “Leviatã”, de Thomas Hobbes, em 1651, que modificou e popularizou a frase criada pelo dramaturgo romano Tittus Maccius Plautus, bem antes de 100 a.C.
É de se uivar pra lua perceber que sejamos ainda tão perigosos lobisomens desde há muito mais de dois mil anos…

Não me refiro acima ao rei Licaão, que comia carne humana e a serviu a Zeus, e foi punido por este deus, sendo transformado em lobo. E nem mesmo me refiro ao termo, tirado daí, licantropia (clínica ou fantasiosa); nem ao lobisomem do Coronel Ponciano de Azevedo Furtado, da literatura fantástica de José Cândido de Carvalho; nem a tantos lobisomens cinematográficos e nem aos cantados e que nos encantam em “Serafim e seus filhos”, de Ruy Maurity, nem na “Canção da Meia Noite”, dos Almôndegas. Me refiro a nós mesmos, reles seres humanos, ditos ou aparentemente “normais”, mas que são (somos!? Eu não, hein! Tô fora!) desumanos, capazes de torturar, de estuprar, de violentar, de escravizar, de matar outros seres humanos. Lobos israelenses estraçalham cordeiros palestinos?

Infelizmente, nada do que é irrazoavelmente desumano nos é estranho há milhares de anos! Assim, o chamado “mundo cão” (não me refiro ao filme italiano que popularizou a expressão) está mais pra mundo lobo!

Mundo, mundo, vastamente desumano mundo… Isso não rima com os pobres lobos cinzentos, vermelhos, guarás e outros mais… Ou menos? Alcateias e matilhas em extinção versus chacinas, guerras e genocídios em ascensão.

O mundo cão, imundo lobo, a nos estraçalhar: por esses dias um jovem planejou e executou a morte de seus próprios pais e irmã porque, segundo ele, os pais o chamaram de “vagabundo” e lhe tomaram o celular… A mãe, mesmo já morta, ainda foi esfaqueada… E o jovem, depois de almoçar entre seus mortos, foi tranquilamente à academia malhar. Em outras paragens pessoas roubaram doações que seriam para os flagelados do Rio Grande do Sul… Fora outros crimes tão cabeludos quanto lobisomens. E nada disso é coisa do cinema, ficção.

Pra não ficar tão distante de nós este mundo cão (o inferno não é tão assim os outros), Minas Gerais e, mais especificamente o sul do estado, nossa região (pasmemo-nos!), bate recorde de trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão, principalmente no setor cafeeiro. Canis Capitalismus Lupus?

No dia 16/05 houve uma audiência em Varginha para debater a questão. Nosso estado, acreditem, lidera a “lista suja” do governo federal do trabalho análogo à escravidão. Entre empresas e pessoas físicas denunciadas, 151 estão no estado (do total de 654).

Ao beber tranquilamente nosso cafezinho do dia a dia, não nos damos conta (e talvez nem queiramos saber) que lobos vestidos de cordeiros tratam trabalhadores das colheitas de forma degradante, semelhante à escravidão. E, por isso, nosso café fica bem mais amargo do que deveria ser. Intragável. Lobisomens, animais soturnos, que entram na colheita escravizada do café conseguem dormir em paz ou perdem o sono?

Aerton Sina é professor de Literatura, poeta de gaveta, eterno amante de vários idiomas e vive divagando, no mundo da lua (talvez seja um astronauta e nem saiba disso).

O texto não reflete precisamente a opinião do blog.

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