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Bateria Helenas da Serrinha o amor pelo samba em terra varginhense

Amor pelo samba faz bem ao coração
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O Brasil é um país diverso, da miscigenação, da alegria, da coragem, da ousadia e o samba nos remete a tudo isso e às nossas origens, ou seja, ele é a representatividade do povo preto, a quem devemos uma reparação pela escravidão e pelo apagamento de suas histórias.

O amor pelo samba e a luta para que ele sobreviva e cresça é uma forma de apego às nossas origens, à história de luta, mas também de alegria, de ritmo e entusiasmo dos nossos antepassados.

Em 1970, os irmãos Eduardo Luiz Cândido Ribeiro e José Reinaldo Ribeiro, apelidados de Serrotes, saíram de Varginha para o mundo. Eles foram trabalhar na construção da ponte Rio-Niterói e tiveram a oportunidade de conhecer as escolas de samba do Rio de Janeiro.

Ao retornarem da Cidade Maravilhosa, ambos empolgados com as experiências vividas, decidiram criar uma escola de samba em Varginha, a que deram o nome de Grêmio Recreativo Escola de Samba Império da Serrinha.

Os irmãos adotaram como cores oficiais o azul e o branco e como símbolo, a águia. Desde a sua fundação, a Império da Serrinha participou de todos os carnavais do município de Varginha.

Os irmãos Eduardo Luiz Cândido Ribeiro e José Reinaldo Ribeiro não estavam sozinhos. Eles contaram com o apoio de outros irmãos, como Luiza Helena Ribeiro Cassimiro, Regina Lúcia Ribeiro Claudino, Cezar Renato Ribeiro e Ana Maria Ribeiro da Silva.

Foram anos difíceis, de muita luta, mas de muita alegria, por terem tido a ousadia de realizar o sonho da criação e permanência de uma escola de samba em Varginha.

Com o falecimento de José Reinaldo e com a ida de Eduardo para fora da cidade à trabalho, foi a irmã Luiza Helena Cassimiro quem assumiu a direção da Império da Serrinha.

Luiza Helena, mulher com nome forte e imponente, era muito aguerrida, determinada, ativa politicamente e batalhadora. Em 1994, lutou para conquistar um terreno, onde hoje funciona a sede da Associação.

Nos anos seguintes, Luiza Helena trabalhou incansavelmente em eventos da cidade, como a feira da paz e em atividades políticas, com o objetivo de angariar fundos para a construção dos imóveis onde hoje são realizados os eventos e atividades culturais da Serrinha.

Luiza Helena permaneceu à frente do Grêmio Recreativo Escola de Samba Império da Serrinha até 2009, data do seu falecimento. Suas bandeiras de luta, sempre foram o samba e a cultura.

O sobrinho de Luiza Helena, Everton Wilson Ribeiro, mais conhecido como Tuquinha, ficou responsável por não deixar morrer o que a família tanto lutou para construir e foi ele quem assumiu a presidência do Império da Serrinha após o falecimento da tia para levar esse legado às futuras gerações.

Atualmente, o mestre da bateria é ninguém mais, ninguém menos, do que o filho de dona Luiza Helena, o sr. Gilson Mauro Cassimiro Júnior, mais conhecido como Mestre Urso.

A escola de samba continua existindo e sua bateria causa encantamento naqueles que dela participam e no público que assiste as apresentações, porém, como grande parte das baterias das escolas de samba, a da Serrinha também sempre foi predominantemente masculina, com algumas poucas mulheres inseridas, a maioria tocando chocalho.

Sabemos que a inserção de mulheres em todos os espaços que elas queiram ocupar, é o ponto de partida para a conquista de uma sociedade mais justa e igualitária.

Assim, oferecer as mesmas oportunidades para ambos os gêneros é o caminho para atingir essa igualdade. Nesse sentido, foi que surgiu a proposta de criação de uma bateria feminina, para as poucas mulheres integrantes da bateria mista da Império da Serrinha.

No início de fevereiro de 2024, a bateria mista se apresentou no carnaval antecipado de Varginha, conhecido como “Banho da Dorotéia” e contou com novos integrantes, dentre eles, Mônica Cardoso, então presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Varginha. Ela estava produzindo um show especial para mulheres, através do projeto da Fundação Cultural, Quinta da Boa Música, com o tema “Varginha Emancipa Mulheres”. Seriam cinco apresentações (Duo Dessas, Luciana Lima, Estephanie Nascimento, Banda da Lua e Floreio de Minas). Mônica, então, teve a ideia de finalizar o show com a apresentação de uma bateria composta somente por mulheres e fez a proposta para as mulheres da Serrinha.

Em princípio, a ideia aparentava ser meio utópica. Foi um enorme desafio porque o show estava marcado para o dia 07 de março/24 e a bateria teria pouco tempo para ensaiar, mais especificamente, duas semanas.

Além disso, a maioria das integrantes da Serrinha trabalham o dia todo, têm suas casas, filhos e o único horário que sobrava para os ensaios era a noite.
Como as mulheres são determinadas, fortes, aguerridas, aceitaram o convite, abraçaram a proposta e ensaiaram incansavelmente durante apenas seis noites.

A maioria das mulheres que tocava chocalho na bateria mista já “chegou chegando” no primeiro ensaio: escolheram seus instrumentos, experimentaram um aqui, outro ali, até que todas estivessem satisfeitas com as suas escolhas. Inclusive a bela rainha da bateria da Serrinha tocou com o grupo de mulheres, e quando alguém perguntou: “mas você não será a nossa rainha?” Ela respondeu: “que tenha um rei, porque aqui eu vou é tocar com vocês!”

“Eu me arrepio só de lembrar dessa fala e do brilho no olhar de cada mulher da comunidade, dos sorrisos largos, da alegria, da empolgação, da euforia misturada com a ansiedade, do suor escorrendo nos corpos no final dos ensaios, do cansaço, das bolhas e dos calos nas mãos, dos hematomas nos braços e nas pernas, a depender dos instrumentos que estávamos tocando, porém, todas com muita empolgação. Assim, mesmo diante de todos os desafios possíveis, do tempo curtíssimo e dos poucos, mas intensos e longos ensaios, nós persistimos e conseguimos atingir o nosso objetivo, ou seja, encerramos o show para mulheres na Quinta da Boa Música em grande estilo”, afirma Mônica Cardoso.

De acordo com as integrantes, alguns homens foram importantes para a concretização desse sonho, elas os chamavam de “Cavalos de Troia”.

O primeiro é o presidente Tuquinha, que acolheu rapidamente a proposta inusitada e ousada pelo pouco tempo que havia para os ensaios, pela pequena quantidade de mulheres e pela pouca experiência delas com os instrumentos.

O segundo, é o mestre Juninho Urso, que pegou firme nos ensaios, que teve paciência e persistência, não desistiu, as incentivou e não deixou as mulheres desistirem.

No segundo ensaio, de acordo com o relato das bateristas, quando elas erravam, olhavam para o mestre, e ele ria tanto, que elas achavam que era de desespero porque, segundo elas, no início era uma bagunça só, e ele com a maior paciência. Alguém brincou, dizendo: “somos as inimigas do ritmo”. E foi aí que surgiu a ideia de se dar um nome para a bateria feminina que surgia.

“Helenas da Serrinha” foi o nome escolhido, muito significativo, tanto para a bateria feminina quanto para a própria escola de samba, e assim todas as integrantes tiveram o prazer de conhecer e, dessa forma, homenagear uma das fundadoras da escola, a dona Luiza Helena.

Quem conheceu a dona Luiza Helena reconhece o amor e dedicação que ela sempre teve pelo samba e pela escola. Todos da comunidade sabem como ela era alegre e gostava de ver a quadra movimentada, cheia de gente e o samba alegrando a vida.

Os que a conheceram têm consciência de que a escola se perpetuou por um pedido dela ao sobrinho, Tuquinha, de tocar em frente esse legado e não deixar o samba morrer.

Segundo relato das integrantes sobre os ensaios, “ela esteve conosco o tempo todo, sorria para nós e sentia orgulho da nossa garra e coragem”.

A melhor amiga de Luiza Helena, dona Geruza, estava ali, junto das mulheres, a representando. As integrantes da bateria relatam que “Geruza é a nossa matriarca, é quem cuida pra que a gente fique bem: providencia água, controla a entrega dos talabartes, das baquetas e dos abadás”.

Geruza orientava a condução do grupo e afirmava: “vocês têm pouco tempo para ensaiar, ninguém pode faltar ensaio, pega firme com as meninas”.

De acordo com as bateristas, Geruza é brava: “ela dá uns puxões de orelha na gente, igual ao mestre, mas sabemos que é por amor, percebemos que é necessário para manter a organização e para fazer bonito ao levar pra população de Varginha o nome da Serrinha, a nossa segunda casa. Nós somos uma família!”

Depois das seis intensas noites de ensaio, chegou o grande dia e, conforme relato das bateristas, “lá estávamos todas nós, numa emoção só, numa ansiedade só, mas muito animadas, corajosas, tensas e foi maravilhoso, foi transcendente! Nós tocamos muito e tocamos com a força que toda mulher tem dentro de si, foi emocionante, foi de arrepiar! As pessoas dançavam, em volta, aplaudiam, vibravam. Várias mulheres que assistiram a apresentação diziam que também queriam participar.

E assim nasceu a bateria feminina as “Helenas da Serrinha”, com toda força, energia, garra e coragem de mulheres unidas com um objetivo comum: não deixar o samba morrer e torná-lo mais vivo ainda nos corações femininos!

Textos e fotos: Aerton de Paulo Silva

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Um comentário

  1. A Serrinha é show, sempre. E as Helena são mais um passo para a construção deste mundo inclusivo e igualitário que sonhamos! Mulheres de talento e garra, sou fã de vocês!!
    Helenas… da Serrinha!!!!!

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